Primeiro webinar da SPIO discute infeções periprotésicas

04/07/2024

A Sociedade Portuguesa de Infeção Osteoarticular (SPIO), afiliada da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), realizou no dia 3 de julho um webinar intitulado “Imprescindível a saber sobre Infeções periprotésicas – back to the basics”. A iniciativa, que teve um elevado número de participantes ativos, reuniu profissionais de saúde de todo o país, incluindo infecciologistas e microbiologistas, tendo sido uma mais-valia, uma vez que o tratamento das infeções periprotésicas é uma ação coordenada de várias especialidades médicas. Foram abordadas as várias temáticas relacionadas com infeções periprotésicas, desde a epidemiologia até aos métodos de tratamento e antibioterapia.

A abertura do webinar foi feita por André Grenho, presidente da SPIO, que destacou a importância do evento: “Este é o primeiro webinar organizado pela SPIO, uma das sociedades mais recentes ligadas à SPOT e dedicamo-nos ao estudo da infeção osteoarticular. O webinar cursa sobre a temática da infeção periprotésica, que é a infeção mais temida por todos nós e aquela com que mais temos contacto”.

Por sua vez, Ana Ribau, da ULS Médio Ave, foi a interveniente que iniciou a sessão com uma descrição epidemiológica do tema, sublinhando as dificuldades associadas na investigação. “A infeção periprotésica tem sofrido algumas alterações ao longo do tempo. Diferentes definições levam a que a epidemiologia seja incerta, uma vez que os estudos não têm grande homogeneidade. No entanto, é mais ou menos consensual que é uma complicação severa”.

Pedro Atilano Carvalho, da ULS Entre Douro e Vouga, deu seguimento com a primeira parte da apresentação sobre o diagnóstico de infeções periprotésicas, que se focou em como esta abordagem é efetuada. “O espectro clínico de uma infeção pode ser muito variável. Portanto, tanto podemos ter infeções mais fulminantes, como infeções mais crónicas e indolentes, com uma ferida cirúrgica sem qualquer sinal inflamatório, cujo único sinal pode ser a dor. Isto para dizer que sobretudo nestas próteses menos dolorosas, num contexto mais crónico, é importante termos em conta aquilo que são os achados clínicos, os achados imagiológicos, o estudo laboratorial e o estudo microbiológico que nos permite diagnosticar qual é o agente da dor da prótese”.

André Grenho foi o responsável pela segunda parte dedicada ao diagnóstico, fazendo um levantamento das classificações dentro da área da infeção, onde seguiu uma divisão de classificações de diagnóstico e de classificações de estadiamento. “As classificações para serem interessantes e fáceis de utilizar precisam de ser relativamente simples, precisam de ter critérios multiestratificados e precisam de nos trazer uma vantagem clínica. Essa vantagem tem de ser facilmente percebida por nós e tem de nos dar algo mais para comunicarmos entre colegas e podermos transmitir informação aos nossos doentes”.

Em relação ao tratamento, Ana Ribau retornou para discutir as opções disponíveis para tratar infeções periprotésicas. Enfatizou que “uma das opções é o desbridamento antibiótico e a retenção de implante (DAIR). O DAIR apresenta-se como uma opção vantajosa em relação às revisões, uma vez que é menos invasivo, menos exigente tecnicamente, confere uma menor comorbilidade ao doente, por norma terá um menor tempo de hospitalização, permite-nos preservar o osso, uma vez que não temos de retirar o implante, e é mais económico”.

De seguida, André Carvalho, da ULS Santo António, explicou o procedimento de revisão a 1 tempo, enquanto André Grenho discutiu a revisão a 2 tempos. De seguida, Bárbara Flôr-de-Lima, da ULS Amadora-Sintra, fomentou a discussão sobre a antibioterapia empírica e dirigida, reforçando a necessidade de um equilíbrio cuidadoso entre o tratamento eficaz e a prevenção da resistência antimicrobiana: “Em relação aos antibióticos, apesar de termos muitas tabelas que dão algumas orientações do ponto de vista terapêutico-antibiótico, este tema é bastante complexo do ponto de vista de atuação, e tendo em conta os microrganismos organizados, e da gestão dentro da própria classe de tipologia de antibióticos”.

Por fim, Mariana Silva, da ULS Médio Tejo, encerrou a iniciativa com o tema do diagnóstico microbiológico, oferecendo um panorama nacional sobre o assunto. Acabou a intervenção mencionando que as colheitas de zaragatoa não são recomendadas, o líquido sinoval deve ser preferencialmente cultivado em garrafas de hemoculturas de aeróbios e anaerónios e a colheita deve apresentar entre três e quatro amostras de tecido. Falou ainda sobre as questões do material protésico, dos fungos e micobactéricas, do uso de Biologia Molecular e da importância de uma equipa multidisciplinar.