18/11/2024
O presidente da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), João Gamelas, faz um balanço positivo do 43.º Congresso Nacional de Ortopedia e Traumatologia, realizado este mês em Vilamoura. O evento, que reuniu especialistas de renome nacionais e internacionais, destacou-se pela qualidade e diversidade dos conteúdos científicos, abordando temas inovadores como a realidade aumentada, a robótica e a inteligência artificial. Para João Gamelas, a colaboração internacional e o foco na inovação tecnológica são cruciais para enfrentar os desafios atuais da especialidade, que se depara com profundas mudanças organizacionais e científicas.
Qual é o balanço geral que faz deste evento? Quais foram os principais destaques e conquistas?
João Gamelas (JG) – O balanço do 43 Congresso Nacional de Ortopedia e Traumatologia (CNOT) é muito favorável, ainda que o resultado ainda não esteja definitivamente apurado e que não haja eventos perfeitos. São de sublinhar os excelentes comentários que temos tido, quer dos congressistas, quer dos patrocinadores e convidados, nacionais e internacionais. Os aspetos mais apreciados e destacados foram a abrangência e dimensão do congresso, a diversidade, quantidade e qualidade dos conteúdos científicos e a organização e apresentação de todo o evento. Nas conquistas, destacaria a consolidação do crescimento do CNOT, em todos os aspetos, incluindo na adesão dos congressistas e dos parceiros que estão presentes no nosso congresso, com o seu apoio e patrocínio.
Este ano, o Congresso contou com várias conferências e apresentações científicas. Poderia mencionar alguns dos temas mais inovadores discutidos e que impacto podem ter no futuro da Ortopedia e Traumatologia em Portugal?
JG – Houve muitas temáticas em debate, de todas as áreas técnicas e anatómicas, com o contributo de grandes nomes da Ortopedia, nacionais e internacionais. Em todas as sessões se discutiram temas de grande atualidade e relevância, com a participação das mais prestigiadas Sociedades Científicas à escala global, destacando-se a AAOS (American Academy of Orthopaedic Surgeons) como nossa sociedade convidada e homenageada neste congresso, entre muitas outras prestigiadas associações, como a ESSKA, a SICOT, a SECOT, a SOFCOT, a SPPCV, a SPOCMA, ou a ISAKOS. De entre os muitos e importantes temas, talvez as áreas que suscitam uma maior curiosidade sejam as relacionadas com a inovação tecnológica, como a realidade aumentada e virtual, a robótica e a inteligência artificial, pelo que ganham maior visibilidade.
A participação e envolvimento dos especialistas portugueses e internacionais tem sido um dos pilares deste evento. Como avalia o contributo dos convidados internacionais e a colaboração entre diferentes países?
JG – Esse envolvimento e participação é de excelente qualidade e é fundamental. Hoje vivemos num mundo global e temos de acompanhar o desenvolvimento e a melhor evidência científica que se produz em qualquer parte do mundo, para podermos garantir o “estado da arte” e tratar os nossos doentes com o melhor conhecimento, entregando-lhes os melhores tratamentos disponíveis. Porque os nossos concidadãos não aceitam nem merecem menos.
Quais são os principais desafios que a Ortopedia e Traumatologia enfrentam atualmente em Portugal e como é que eventos como este Congresso ajudam a enfrentá-los?
JG – A Ortopedia e Traumatologia, tal como as outras especialidades médicas, enfrentam grandes e novos desafios, a vários níveis. Alguns são organizacionais, com uma profunda mudança no sistema de saúde, uma cada vez maior necessidade de subespecialização, a degradação do serviço público, ou a mudança do mercado de trabalho dos especialistas. Outros são científicos, com a necessidade de um esforço permanente de atualização para acompanhar um crescimento cada vez maior, exponencial, do conhecimento, com cada vez menos recursos financeiros disponíveis e/ou alocados para esse fim e custos insustentáveis para o próprio. Outros níveis de desafio, são puramente tecnológicos, ou fortemente alavancados pela tecnologia. E, estes, vão mudar a Ortopedia e Traumatologia, a Medicina e o mundo… E vão, também, forçar as necessárias mudanças dos atuais modelos de organização, de governança e de desempenho.
O que podemos esperar para os próximos anos em termos de evolução e tendências na Ortopedia e Traumatologia? Há algum plano ou iniciativa que a SPOT pretende desenvolver com base nas discussões realizadas durante este Congresso?
JG – Podemos esperar tudo! Uma verdadeira revolução. A maior a que já assistimos. E em tudo. Concretamente, na Ortopedia e Traumatologia, vai mudar a organização do trabalho e dos recursos, a estruturação das especialidades e subespecialidades, a forma como diagnosticamos, definimos terapêuticas, tratamos e operamos. A Ortopedia é, tradicionalmente, uma especialidade com muita ligação à engenharia, à biomecânica, aos biomateriais e às tecnologias. Mas, agora, vem aí um mundo novo, em grande transformação e aceleração, com as realidades aumentadas e virtuais, o desenvolvimento de novas gerações de navegação e de simulação, a proliferação e evolução robótica e a inteligência artificial, com novos patamares evolutivos e riscos associados, ainda impossíveis de antecipar. A SPOT, consciente destes novos desafios, tem criado estruturas dedicadas a estas temáticas e desafios, nomeadamente a Academia SPOT, a SENTTO (Secção para o Estudo das Novas Terapêuticas e Tecnologias em Ortopedia), ou o GEMOG (Grupo de Estudo de Modelos de Organização e Gestão). E estamos muito atentos ao que já chegou e ao que vem aí e muito empenhados em acompanhar todas as inovações e desenvolvimentos, para podermos desenhar e implementar as ações de formação que se identifiquem como necessárias.