Todas as Hérnias Discais Lombares têm indicação cirúrgica?
A resposta é não.
A maior parte das hérnias discais lombares são tratadas sem cirurgia. As indicações cirúrgicas clássicas são a dor ciática hiperálgica (que não cede à medicação) e/ou a falta de força no membro inferior.
Nos casos em que a dor ciática se prolonga no tempo, durante 4-6 semanas, e não cede ao tratamento não cirúrgico com medicação e fisioterapia, pode-se oferecer a cirurgia ao doente para tentar uma recuperação mais rápida.
A diminuição da estatura na terceira idade deve-se a que fenómeno?
Existem dois fenómenos associados à diminuição da estatura na terceira idade. Por um lado, ocorre como efeito secundário das múltiplas fraturas vertebrais que vão ocorrendo ao longo da vida, como consequência da osteoporose.
Por outro lado, o envelhecimento da coluna também leva à perda de altura dos discos intervertebrais, que são estruturas que se encontram entre as vertebras e funcionam como pequenos amortecedores para absorção de cargas. Consequentemente essa perda de altura dos discos levam à perda de altura global do doente.
As lesões neurológicas traumáticas, atualmente consideradas definitivas, poderão futuramente ser revertidas?
Vários trabalhos estão em curso no sentido de atingir esse objetivo. Contudo e, não obstante ser nossa convicção que a médio/ longo prazo tal poderá concretizar-se, não podemos ainda hoje oferecer essa possibilidade aos nossos doentes.
Revisão: Dr. Jorge Alves (2023)
Hérnia Discal: o essencial a saber
Daniela Roque, Interna de Ortopedia do Centro Hospitalar de Baixo Vouga
A coluna vertebral é composta por várias vértebras, e no interior existe um canal onde se encontra a medula espinhal. Entre cada duas vértebras existe um disco intervertebral, cuja função é amortecer e estabilizar a coluna.
A hérnia de disco é uma patologia onde o disco intervertebral sofre abaulamento.
O disco intervertebral é uma estrutura de fibrocartilagem que pode ser ser lesionada pelo desgaste e sobrecarga ou por trauma, perdendo a sua função amortecedora e deformando-se, o que pode levar à compressão de outras estruturas que o rodeiam, por exemplo o canal vertebral ou pequenos buracos por onde emergem raízes nervosas.
Esses nervos que ficam “apertados” tem funções importantes como enervação de músculos (função motora) ou pele (função sensitiva). Se o disco deformado doente apertar estes nervos ou o canal vertebral, vão surgir sintomas como dor nas costas, sensação de formigueiro/ dormência ou parestesias. Além destes, também é muito comum os doentes queixarem-se de dor em queimadura ou choque elétrico na nádega, coxa, perna e pé – a dor em ciática. Nos casos mais avançados pode coexistir perda de força muscular, o que se traduz em dificuldade na marcha e alterações a nível do funcionamento da bexiga e intestino.
Estas ocorrem mais frequentemente no segmento lombar ou cervical da coluna. Os principais fatores de risco são a sobrecarga excessiva da coluna vertebral, vícios posturas, sedentarismo, obesidade, entre outros.
Para se diagnosticar uma hérnia discal, o seu ortopedista vai discutir com o doente o tipo de sintomas que apresenta e avaliar através do exame objetivo a integridade da função motora e sensibilidade, o que permite perceber que segmento da coluna estará afetado. Adicionalmente, existem exames complementares de diagnóstico relevantes que devem ser executados para confirmação do diagnóstico e classificação da doença – essencial para elaboração do plano terapêutico ou que tipo de tratamento será mais adequado na fase atual da doença. Estes são a Tomografia Axial Computorizada (TAC) ou da Ressonância Magnética Nuclear (RMN).
O tratamento desta patologia pode passar por uma estratégia conservadora sem recurso a cirurgia, através de repouso, medicação analgésica e anti-inflamatória, ortóteses ou dispositivos mobilizadores da coluna como colar cervical ou lombostato e apoio fisiátrico com esquema de fisioterapia.
Em casos mais graves, quando os sintomas persistem e limitam a qualidade de vida, em perda aguda da força muscular num membro ou perda de controlo urinário e intestinal pode ser necessário tratamento cirúrgico. Felizmente, estetem uma taxa de sucesso superior a 90%, com grande satisfação e melhoria na qualidade de vida dos doentes. No entanto, nenhum procedimento cirúrgico é livre de riscos, embora sejam extremamente raros.
O procedimento mais realizado é a microdiscectomia, que se foca na remoção do fragmento herniado que comprime as estruturas neurais circundantes. Esta pode ser realizada por uma abordagem tradicional ou minimamente invasiva.
Prática desportiva para reforço muscular, uma alimentação saudável, controlo do peso são ideais para evitar a sobrecarga sobre a coluna. Durante o dia-a-dia deve-se ter cuidado especial com a postura ao caminhar, sentado e a dormir assim como realizar elevação de pesos corretamente, mantendo as costas eretas. O mais importante em prevenir o desenvolvimento de hérnias discais começa pela adoção de um estilo de vida saudável.
Daniela Roque, Interna de Ortopedia do Centro Hospitalar de Baixo Vouga
“A ciática” – o que é, causas e tratamento
João Gomes Reis, Interno do 5º ano de Ortopedia e Traumatologia do CHTMAD
A ciatalgia, comummente conhecida como ciática é causada por alterações do nervo ciático, que é formado através de raízes nervosas da medula espinal – com trajeto entre a 4ª vértebra lombar e a 3ª vértebra sagrada. Por esta razão a sua função motora e sensitiva pode ser atribuída individualmente às diferentes raízes. De uma forma geral, o nervo ciático é responsável pela função motora e pela sensibilidade da coxa, perna e pé.
Estima-se que a prevalência anual de ciatalgia seja cerca de 2.2%. É importante diferenciar a dor lombar da dor ciática, já que apenas 5-10% dos doentes com dor lombar apresentam ciatalgia. Os fatores de risco mais estudados para a ciatalgia são a idade (45-64 anos), tabaco, stress e profissões que impliquem cargas pesadas ou condução prolongada.
A causa mais frequente da ciatalgia é a doença degenerativa da coluna vertebral, principalmente as hérnias discais, mas também a estenose foraminal e canal estreito lombar. Menos frequentemente as fraturas vertebrais de osteoporose, compressões ao longo do seu trajeto (por exemplo, Síndrome do Piriforme), infeções, hematomas ou neoplasias podem ser causas de ciatalgia.
A dor ciática é descrita como uma dor tipo choque elétrico ou em queimadura que irradia pela face posterior da coxa até ao joelho ou ao pé. A localização e irradiação da dor é indicativo do local (raiz nervosa) onde existe a compressão do nervo ciático. Simultaneamente, pode existir dor na região lombar, mas esta não faz parte da definição de ciatalgia, é um sintoma adicional que pode ou não estar associado à causa da ciatalgia. Além da dor, pode surgir uma sensação de dormência do membro (perda de sensibilidade) ou perda de força.
A ciatalgia apresenta habitualmente uma grande intensidade, pelo que é de difícil controlo mesmo com auxílio farmacológico.
O diagnóstico deve ser realizado por um médico – a história clínica e o exame objetivo, habitualmente, são suficientes. Ao contrário da crença popular, a realização de um exame de imagem só é necessária se existirem sinais de alarme – Tabela 1.
Face à clínica habitual da ciatalgia e ausência de sinais de alarme, deve ser realizado o tratamento conservador durante cerca de 6-8 semanas.
O doente deve ser instruído acerca de sinais de alarme que devem motivar uma nova avaliação médica.
O tratamento conservador implica um controlo farmacológico da dor. É provável que na fase aguda o doente nunca se sinta completamente aliviado, o objetivo é controlar a dor, tornando-a suportável para o doente.
O doente deve evitar carregar pesos, realizar movimentos de torção e flexão do tronco, no entanto, a deambulação é recomendada. A reabilitação fisiátrica faz parte do tratamento conservador (por ex., exercícios de McKenzie), mas deve ser prescrita por um Fisiatra caso a caso.
Ao final das 8 semanas, o doente deve ser reavaliado, caso se verifique a persistência das queixas – a etiologia da dor ciática deve ser estudada por TAC ou RMN.
A coluna vertebral apresenta diversas patologias com sobreposição de sinais e sintomas, pelo que a conciliação do exame físico e os exames de imagem são essenciais para aumentar a precisão do diagnóstico de forma a permitir o tratamento mais eficaz.
As opções passam por prolongar o tratamento conservador ou propor uma intervenção direcionada à causa da ciatalgia. Consoante a presença de hérnia discal, doença degenerativa discal ou instabilidade, podem ser oferecidos tratamentos que vão desde a infiltração dirigida com fármaco na origem da raiz nervosa, cirurgia percutânea para remoção da hérnia (endoscopia, microdiscectomia) ou procedimentos mais invasivos de descompressão com ou sem fusão de diferentes níveis da coluna vertebral.
O tratamento conservador desta patologia tem uma elevada taxa de sucesso, dado que 70% dos doentes se encontram recuperados ao fim de 3 meses, devendo permanecer como primeira linha na ausência de sinais de alarme.
Sinais de alarme |
Dor incontrolável |
Perda de força no pé/perna |
História de trauma |
Perda de controlo dos esfíncteres (incontinência urinária e/ou fecal) |
Perda de sensibilidade no períneo |
Perda involuntária de peso |
Febre |
Tabela 1 Sinais de alarme
João Gomes Reis, Interno do 5º ano de Ortopedia e Traumatologia do CHTMAD