09/12/2024
João Gamelas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), aproxima-se do final do seu mandato com um balanço positivo e a satisfação de ter deixado uma marca significativa. Durante os últimos 20 meses, enfrentou o desafio de aproximar a SPOT dos seus associados e consolidar a estrutura organizacional da sociedade, promovendo a sua utilidade e visibilidade no panorama nacional e internacional.
Qual foi o maior desafio que enfrentou durante o seu mandato como presidente da SPOT e como conseguiu ultrapassá-lo?
João Gamelas (JG) – O maior desafio foi a aproximação com os sócios, dar um sentido de utilidade da associação para os associados, de forma a fazê-los acreditar que vale a pena envolverem-se e serem da SPOT. Para isso foi necessário promover um forte incremento do envolvimento dos sócios, através de uma maior disponibilidade e transparência, da proliferação das ações de formação que permitiram um contacto frequente e regular com os sócios, ao longo de todo o ano e não apenas no Congresso Nacional, e um reforço deste, na sua organização, abrangência temática e conteúdos científicos, assim como na participação e satisfação dos congressistas e dos patrocinadores. Fazer os sócios e os patrocinadores acreditarem no importante papel da SPOT e no seu enorme potencial e quererem estar e pertencer a este projeto foi o mais difícil. Muito foi conseguido, mas nada está garantido, exigindo que a SPOT mantenha o seu desenvolvimento e cuidado para com todos.
Quais considera serem as principais conquistas alcançadas durante o seu período na presidência? Houve algum marco particularmente importante?
JG – Para além do que já referi, acrescentaria como principal marco a obtenção do Estatuto de Utilidade Pública, que conseguimos em tempo recorde. Mas, apesar de ter menos visibilidade, termos dotado a SPOT de um quadro regulamentar robusto, com novos Estatutos e muitos outros regulamentos, com modelos eficientes de gestão e com um conjunto de ferramentas e soluções, nomeadamente informáticas, que permitem assegurar o seu desenvolvimento e futuro, é de extrema importância e relevo. Lembro, ainda, a importante renovação e lançamento de uma nova revista da Sociedade, a Orthopaedic SPOT, com todos os requisitos e plataforma de submissão e gestão, à imagem dos melhores exemplos internacionais. Termos conseguido desenvolver a Sociedade, mostrando que, com uma estratégia, objetivos definidos e muito trabalho, não há limites para o desenvolvimento, visibilidade e protagonismo da SPOT, foi, também, um marco importante e uma responsabilidade acrescida para os vindouros.
Os objetivos que estabeleceu no início do mandato foram atingidos? Se não, o que impediu a sua concretização?
JG – Foram muitos, mas não todos. Talvez porque a ambição é (e deve ser sempre) maior. Conseguimos, mas gostaríamos de ter conseguido uma adesão dos sócios ainda maior, apesar dos quase 1.300 congressistas do último congresso. E precisávamos de mais tempo, para além dos curtos 20 meses deste mandato, para consolidar a excelente evolução das contas da Sociedade e para garantir, após a atribuição do Estatuto de Utilidade Pública, o Estatuto do Mecenato Científico, como um objetivo estratégico para a SPOT e cujo processo já iniciámos.
Quais foram os aspetos mais gratificantes e os mais desafiantes do seu percurso como presidente?
JG – Os mais gratificantes foram o termos transformado a SPOT no aspeto organizacional e o termos conseguido conquistar a confiança de muitos sócios e parceiros. O mais desafiante foi conseguir envolver as pessoas e fazê-las acreditar…! Acreditar no potencial da SPOT, que só juntos podemos ser fortes e que vale a pena ser SPOT!
Se tivesse a oportunidade de repetir o mandato, há algo que faria de forma diferente? Porquê?
JG – Não sei o que faria de forma diferente, porque conseguimos reunir uma grande equipa, envolver os associados no projeto e atingir a generalidade dos objetivos a que nos propusemos, num curto espaço de tempo. Mas tenho pena de não termos tido tempo suficiente para consolidar o projeto, quer do ponto de vista organizacional, com mais estruturas autónomas que garantam o funcionamento da SPOT nas suas atividades regulares e sem excessiva dependência dos órgãos eleitos e da direção, quer no aspeto financeiro, apesar dos excelentes resultados alcançados e do significativo reforço das reservas financeiras da Sociedade, que permitem olhar para o futuro com outra confiança e tranquilidade, num mundo tão imprevisível e turbulento, muito para além dos riscos pandémicos. Com as contas mais consolidadas, a garantia de continuidade do desenvolvimento, o reforço da capacidade formativa e a manutenção do sucesso científico e financeiro das atividades e dos Congressos, deveremos reforçar o secretariado e recrutar um diretor-geral para profissionalizar a nossa associação, à semelhança das grandes sociedades científicas nacionais e internacionais. Mas 20 meses de mandato não deram (nem era suposto que pudessem dar) para tanto.
Quais foram as iniciativas que implementou que acredita terem um impacto duradouro na Ortopedia e Traumatologia em Portugal?
JG – Foram muitas, mas destacaria a construção de uma SPOT mais forte, mais organizada e mais útil e próxima dos sócios, reforço da visibilidade nacional e internacional da SPOT e da Ortopedia portuguesa, os protocolos com instituições de referência, por exemplo o INSA, com quem estabelecemos parcerias para o desenvolvimento de um registo nacional público e institucional de artroplastias e fraturas, a criação e reforço das estruturas internas para o desenvolvimento da formação (p.e a Academia SPOT), da organização e da gestão, potenciando a capacidade de intervenção dos ortopedistas nas organizações (p.e. GEMOG), a criação de uma nova revista científica da SPOT, o relançamento da campanha pública “Não Caia Nisso” e de outras campanhas em que a SPOT está envolvida, e a construção e desenvolvimento de um novo site, com novos e atualizados conteúdos e com novas funcionalidades.
Que conselhos daria ao próximo presidente da SPOT para continuar o trabalho desenvolvido e enfrentar os desafios futuros da especialidade?
JG – Não tenho pretensões a dar conselhos a ninguém e, muito menos, ao próximo presidente da SPOT. Mas gostaria que aproveitasse e desse continuidade aos projetos em curso, que continuasse a desenvolver a SPOT, que construísse e acrescentasse ao que já foi construído e que, no final do seu mandato, deixasse uma marca pessoal de uma SPOT ainda mais forte, mais consolidada, mais participada e com um congresso ainda maior, mais reconhecido e mantendo a procura crescente de mais patrocinadores, interessados em estar presentes no maior evento da Ortopedia nacional e das sociedades científicas portuguesas. Para alcançar isso, só há uma receita: manter e desenvolver o que a SPOT tem feito, envolver e delegar nas estruturas organizadas e nos sócios, acarinhar as iniciativas dos seus membros e acrescentar novas iniciativas. Em resumo, trabalhar, trabalhar e trabalhar…
De que forma a experiência na presidência da SPOT o marcou pessoal e profissionalmente? Considera que esta experiência superou, correspondeu ou ficou aquém das suas expectativas iniciais?
JG – Foi uma experiência que superou as expectativas. A título de exemplo, partilho que os objetivos que tínhamos para o congresso no segundo ano de mandato (2024), foram ultrapassados logo no primeiro congresso (2023), quer no número de congressistas (em que tínhamos como objetivo passar dos habituais 600 a 700 para 1.000 em dois anos e tivemos mais de 1.200, logo no primeiro ano), quer nas receitas e no resultado financeiro do congresso. E foi uma experiência marcante, porque mudou a minha vida, tanto pessoal como profissionalmente. Em poucas palavras, permitiu-me confirmar uma convicção que vinha consolidando há já alguns anos, em que me tenho vindo a dedicar, progressivamente, mais à gestão: a de que poderia ser muito mais útil à sociedade e aos doentes a “tratar” organizações ligadas à saúde, do que a tratar doentes, individual e diretamente. E mudei a minha vida…